sexta-feira, 12 de março de 2010

O Palhaço à meia-noite

Tem uma coisa sobre palhaços assassinos... e é difícil dizer se é triste ou engraçada


TIC TAC fazia o relógio. Eram quase 6 da tarde; o Palhaço estava trancado em seu quarto, numa noite que pra ele seria como um batizado...um batizado de sangue! Ela já espancara, quebrara ossos de mendigos sem rumo, mas naquele dia, pela primeira vez, ele iria matar! Tudo estava pronto, as facas, cordas, equipamentos de tortura, tudo! Só faltava agora encontrar uma vitima. Ele se fingiu de palhaço comum e aceitou ir “animar” uma festinha de um comerciante conhecido na cidade que o contratara. Seria a chance perfeita, matar crianças! Ele vestiu sua roupa e seguiu, com seu furgão, para se encontrar com seu anjo. O anjo que ele pretendia mandar para o inferno da maneira como mais agradasse sua mente insana.

A festa estava animada, todas as crianças esperavam ansiosas a chegada do palhaço Pluto. Ele entrou como um animador num picadeiro, fazia mágicas, fazia piadas, algumas segundo os pais que eram ligeiramente ácidas demais. Mas todos o adoravam.

“papai eu quero que você convide sempre ele para o meu aniversario” a menina dizia com alegria nos olhos. O pai prometera sempre chamar ele, apesar de não gostar muito de palhaços e sinceramente preferisse que não houvesse outras festas como aquela.

Uma menina estava sentada no fundo do salão, uma prima da aniversariante, meio quietinha e que só estava lá por conta de seu parentesco. O Palhaço a notou e a chamou para o “palco”, como voluntária para uma mágica. A menina foi e ele a fez desaparecer.

Depois do truque, ele se despediu e se foi. Quando lhe perguntaram onde estava a menina, ele disse que logo ela apareceria. O pai também fez a mesma pergunta e o Palhaço disse para procurá-la atrás do salão, onde ele a mandou que ficasse. Foi embora levando uma mala pesada, que segundo ele continha truques de mágica, roupas, e etc.

A menina acordou, estava dentro de uma mala grande a aberta. Em um quarto mal iluminado e visivelmente sujo. O palhaço Pluto estava em um canto, sorrindo maliciosamente, com as mãos atrás de si. “Vamos brincar?” a voz dele saia com um que de insanidade. Ela olhou para os lados e viu que não tinha por onde escapar. Começou a chorar: chamava pela mãe, pelo pai, mas nada. Estavam sozinhos, ela e o Palhaço.

Ele olhou no relógio, meia-noite, estava na hora!

“Não chore menininha, eu vou cuidar de você”, ele se aproximou e começou a acariciar-lhe o rosto, apertando suas bochechas de uma forma que doía. Ele mandou que ela tirasse a roupa. Ela se negou e ele arrancou a blusa à força.

“Agora, vamos brincar de cirurgião”, ele tirou uma navalha do bolso, passando-a próximo aos olhos da menina. Estava louco para arrancar os olhos. Queria ver se faziam PLOC quando saltavam. “Vamos começar operando, a barriga”.

Ele fez um corte raso acima do umbigo, a navalha parecia queimar a pele da menina, que já desistira de chorar e agora soluçava baixinho. Ele fez outro corte mais profundo pouco acima do primeiro, mas agora já não agüentava de excitação, queria arrancar os olhos e ouvir ela gritar. Mas para isso, precisava da ferramenta adequada, um bisturi cirúrgico que tinha guardado faz muito tempo, esperando a hora certa de usá-lo.

“Espere aqui criança, vou buscar outro brinquedinho mais interessante”, e ele saiu, tomando o cuidado de não deixar a navalha para trás. A menina estava sozinha no quarto, viu a gaveta de um armário aberta e resolveu mexer para ver se encontrava alguma coisa que a ajudasse a escapar. Olhou e viu um alicate, que escondeu atrás de si, e esperou o palhaço voltar.

Ele voltou e viu a menina encolhida no canto, estava excitado demais mas mesmo assim quis continuar a cumprir sua cena com o fetiche que ela merecia. Ele se aproximou dela, olhando-a fixamente nos olhos. “Agora eu vou ser oftalmologista, deixe-me ver seu olhos” e ele se aproximava devagar e ameaçadoramente. Quando estava perto o suficiente, a menina bateu forte com o alicate em sua cabeça, ele se distraiu e ela bateu mais duas vezes, até que ele desmaiou.

A menina pegou o bisturi e começou a arranhar o palhaço levemente; batera tão forte que provavelmente nada o acordaria. Ela pegou o bisturi e, não conseguindo se conter de vontade, arrancou os olhos do palhaço, um a um, cortando devagar e curtindo cada jorrada de sangue em seu rosto. Ela fez alguns cortes no peito, pretendendo chegar ao seu coração, mas a caixa torácica não deixava. Desistiu e decidiu arrancar os órgãos genitais deles, e enterrar por vez o bisturi na artéria cerebral. Ela se levantou, o rosto encharcado do sangue que ela passava em si própria, deu uma ultima risada sarcástica e olhou nas cavidades vazias onde antes havia dois olhos de assassino.

“Nunca gostei de palhaços!”

Haiti

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for à festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tropicalia 2

sábado, 9 de janeiro de 2010

O espírito do Natal


Natal! Época de paz, de trocar presentes, abraçar os amigos, perdoar os inimigos, enfim, de fazer tudo aquilo que não costumamos fazer freqüentemente no resto do ano. Uma época em que muitos acreditam ser mágica. Seja por motivos religiosos ou simplesmente culturais, a realidade é que o espírito do natal esta dentro de todos nós. Mas será mesmo que somos realmente capazes de mudarmos aquilo que fomos durante o resto do ano assim, de repente? Se for assim, então porque voltamos a ser aquilo que éramos a 00:01h do dia 26 de dezembro?

O ser humano nunca foi um animal dos mais generosos. Em toda a nossa história aqui no planeta Terra, somos marcados pela exploração de uns para com os outros e também para com o nosso próprio planeta. Matamos nossa própria espécie e nosso próprio habitat. Tudo por conta de invenções nossas mesmas, como dinheiro, poder, discriminação, enfim, tudo aquilo que é ruim para nós e que nos mesmo inventamos para tentar controlar de alguma forma o nosso meio.

Mas, apesar de termos inventado tanta coisa má, ainda sim nascemos capazes de amar. Isso não é algo que inventamos, mas nascemos capazes. Amamos desde o primeiro momento de nossa vida, quando nascemos e amamos primeiro a nossa mãe, depois conhecemos e amamos a nossa família, e esse amor nos da paz e segurança. Até que um dia, conhecemos aquilo que os homens inventaram; aquilo que causa ódio; aquilo que nos bota medo e tira a preciosa paz que conquistamos através do amor.

E então, a mídia e a opinião pública dizem que podemos voltar a sermos o que éramos durante o natal, e a nossa crença nisso faz acontecer de verdade. Realmente muitos de nós amamos e compreendemos uns aos outros no natal como não faríamos em outras épocas do ano. Mas será que isso é por causa de este ser o dia do nascimento de Cristo (o que não o é, pois foi provado por historiadores que o 25 de dezembro é uma estipulada pela igreja por conta de esta não saber a data exata), ou será que é por conta de muitos de nós acreditarmos fielmente que mudamos durante o natal? Obviamente nem todos mudam, mas muitas pessoas realmente mudam quando querem e acreditam que podem mudar.

A paz que se estabelece em nós durante o natal é fruto de nossa crença num mundo melhor e na nossa vontade de construir esse mundo; de voltarmos às raízes; de voltarmos a amar como amávamos há muito tempo. A Terra realmente é abençoada no natal, mas isso é porque nós a fazemos assim; porque da mesma forma como somos capazes de odiar, também somos capazes de amar de forma extraordinária. Então, que todos e cada um de nós possamos ser capazes de amar, e queiramos amar acima de tudo, não só no natal, mas em todos os momentos do ano. Que estejamos dispostos a aceitar aquilo que somos desde que nascemos e possamos juntos construir um mundo melhor, onde possa haver verdadeira paz e felicidade em qualquer época do ano.