sexta-feira, 12 de março de 2010

O Palhaço à meia-noite

Tem uma coisa sobre palhaços assassinos... e é difícil dizer se é triste ou engraçada


TIC TAC fazia o relógio. Eram quase 6 da tarde; o Palhaço estava trancado em seu quarto, numa noite que pra ele seria como um batizado...um batizado de sangue! Ela já espancara, quebrara ossos de mendigos sem rumo, mas naquele dia, pela primeira vez, ele iria matar! Tudo estava pronto, as facas, cordas, equipamentos de tortura, tudo! Só faltava agora encontrar uma vitima. Ele se fingiu de palhaço comum e aceitou ir “animar” uma festinha de um comerciante conhecido na cidade que o contratara. Seria a chance perfeita, matar crianças! Ele vestiu sua roupa e seguiu, com seu furgão, para se encontrar com seu anjo. O anjo que ele pretendia mandar para o inferno da maneira como mais agradasse sua mente insana.

A festa estava animada, todas as crianças esperavam ansiosas a chegada do palhaço Pluto. Ele entrou como um animador num picadeiro, fazia mágicas, fazia piadas, algumas segundo os pais que eram ligeiramente ácidas demais. Mas todos o adoravam.

“papai eu quero que você convide sempre ele para o meu aniversario” a menina dizia com alegria nos olhos. O pai prometera sempre chamar ele, apesar de não gostar muito de palhaços e sinceramente preferisse que não houvesse outras festas como aquela.

Uma menina estava sentada no fundo do salão, uma prima da aniversariante, meio quietinha e que só estava lá por conta de seu parentesco. O Palhaço a notou e a chamou para o “palco”, como voluntária para uma mágica. A menina foi e ele a fez desaparecer.

Depois do truque, ele se despediu e se foi. Quando lhe perguntaram onde estava a menina, ele disse que logo ela apareceria. O pai também fez a mesma pergunta e o Palhaço disse para procurá-la atrás do salão, onde ele a mandou que ficasse. Foi embora levando uma mala pesada, que segundo ele continha truques de mágica, roupas, e etc.

A menina acordou, estava dentro de uma mala grande a aberta. Em um quarto mal iluminado e visivelmente sujo. O palhaço Pluto estava em um canto, sorrindo maliciosamente, com as mãos atrás de si. “Vamos brincar?” a voz dele saia com um que de insanidade. Ela olhou para os lados e viu que não tinha por onde escapar. Começou a chorar: chamava pela mãe, pelo pai, mas nada. Estavam sozinhos, ela e o Palhaço.

Ele olhou no relógio, meia-noite, estava na hora!

“Não chore menininha, eu vou cuidar de você”, ele se aproximou e começou a acariciar-lhe o rosto, apertando suas bochechas de uma forma que doía. Ele mandou que ela tirasse a roupa. Ela se negou e ele arrancou a blusa à força.

“Agora, vamos brincar de cirurgião”, ele tirou uma navalha do bolso, passando-a próximo aos olhos da menina. Estava louco para arrancar os olhos. Queria ver se faziam PLOC quando saltavam. “Vamos começar operando, a barriga”.

Ele fez um corte raso acima do umbigo, a navalha parecia queimar a pele da menina, que já desistira de chorar e agora soluçava baixinho. Ele fez outro corte mais profundo pouco acima do primeiro, mas agora já não agüentava de excitação, queria arrancar os olhos e ouvir ela gritar. Mas para isso, precisava da ferramenta adequada, um bisturi cirúrgico que tinha guardado faz muito tempo, esperando a hora certa de usá-lo.

“Espere aqui criança, vou buscar outro brinquedinho mais interessante”, e ele saiu, tomando o cuidado de não deixar a navalha para trás. A menina estava sozinha no quarto, viu a gaveta de um armário aberta e resolveu mexer para ver se encontrava alguma coisa que a ajudasse a escapar. Olhou e viu um alicate, que escondeu atrás de si, e esperou o palhaço voltar.

Ele voltou e viu a menina encolhida no canto, estava excitado demais mas mesmo assim quis continuar a cumprir sua cena com o fetiche que ela merecia. Ele se aproximou dela, olhando-a fixamente nos olhos. “Agora eu vou ser oftalmologista, deixe-me ver seu olhos” e ele se aproximava devagar e ameaçadoramente. Quando estava perto o suficiente, a menina bateu forte com o alicate em sua cabeça, ele se distraiu e ela bateu mais duas vezes, até que ele desmaiou.

A menina pegou o bisturi e começou a arranhar o palhaço levemente; batera tão forte que provavelmente nada o acordaria. Ela pegou o bisturi e, não conseguindo se conter de vontade, arrancou os olhos do palhaço, um a um, cortando devagar e curtindo cada jorrada de sangue em seu rosto. Ela fez alguns cortes no peito, pretendendo chegar ao seu coração, mas a caixa torácica não deixava. Desistiu e decidiu arrancar os órgãos genitais deles, e enterrar por vez o bisturi na artéria cerebral. Ela se levantou, o rosto encharcado do sangue que ela passava em si própria, deu uma ultima risada sarcástica e olhou nas cavidades vazias onde antes havia dois olhos de assassino.

“Nunca gostei de palhaços!”

Haiti

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for à festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tropicalia 2

sábado, 9 de janeiro de 2010

O espírito do Natal


Natal! Época de paz, de trocar presentes, abraçar os amigos, perdoar os inimigos, enfim, de fazer tudo aquilo que não costumamos fazer freqüentemente no resto do ano. Uma época em que muitos acreditam ser mágica. Seja por motivos religiosos ou simplesmente culturais, a realidade é que o espírito do natal esta dentro de todos nós. Mas será mesmo que somos realmente capazes de mudarmos aquilo que fomos durante o resto do ano assim, de repente? Se for assim, então porque voltamos a ser aquilo que éramos a 00:01h do dia 26 de dezembro?

O ser humano nunca foi um animal dos mais generosos. Em toda a nossa história aqui no planeta Terra, somos marcados pela exploração de uns para com os outros e também para com o nosso próprio planeta. Matamos nossa própria espécie e nosso próprio habitat. Tudo por conta de invenções nossas mesmas, como dinheiro, poder, discriminação, enfim, tudo aquilo que é ruim para nós e que nos mesmo inventamos para tentar controlar de alguma forma o nosso meio.

Mas, apesar de termos inventado tanta coisa má, ainda sim nascemos capazes de amar. Isso não é algo que inventamos, mas nascemos capazes. Amamos desde o primeiro momento de nossa vida, quando nascemos e amamos primeiro a nossa mãe, depois conhecemos e amamos a nossa família, e esse amor nos da paz e segurança. Até que um dia, conhecemos aquilo que os homens inventaram; aquilo que causa ódio; aquilo que nos bota medo e tira a preciosa paz que conquistamos através do amor.

E então, a mídia e a opinião pública dizem que podemos voltar a sermos o que éramos durante o natal, e a nossa crença nisso faz acontecer de verdade. Realmente muitos de nós amamos e compreendemos uns aos outros no natal como não faríamos em outras épocas do ano. Mas será que isso é por causa de este ser o dia do nascimento de Cristo (o que não o é, pois foi provado por historiadores que o 25 de dezembro é uma estipulada pela igreja por conta de esta não saber a data exata), ou será que é por conta de muitos de nós acreditarmos fielmente que mudamos durante o natal? Obviamente nem todos mudam, mas muitas pessoas realmente mudam quando querem e acreditam que podem mudar.

A paz que se estabelece em nós durante o natal é fruto de nossa crença num mundo melhor e na nossa vontade de construir esse mundo; de voltarmos às raízes; de voltarmos a amar como amávamos há muito tempo. A Terra realmente é abençoada no natal, mas isso é porque nós a fazemos assim; porque da mesma forma como somos capazes de odiar, também somos capazes de amar de forma extraordinária. Então, que todos e cada um de nós possamos ser capazes de amar, e queiramos amar acima de tudo, não só no natal, mas em todos os momentos do ano. Que estejamos dispostos a aceitar aquilo que somos desde que nascemos e possamos juntos construir um mundo melhor, onde possa haver verdadeira paz e felicidade em qualquer época do ano.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sobem-se as cortinas; acendem-se as luzes; começa o espetáculo!...

A cortina sobe; o espetáculo começa! E as bailarinas entram pela porta lateral como que saltitando no próprio ar, rodopiando numa confusão de cores e sentimentos, voando como helicópteros coloridos em um mundo de sonho e doce ilusão. Cada salto leva junto o coração do publico, que sobe com a bailarina; o sorriso em seu rosto nos lembra de uma vaga lembrança, um simples sorriso, que demos em algum momento de nossa infância. As luzes se apagam; saem às bailarinas. O público aplaude a dança enquanto espera ansioso o próximo show a vir.

E então uma surpresa: por onde saíram as doces bailarinas vêem-se dançarinos vestidos de selva entrando furtivamente. Seus olhares hostis e suas expressões primitivas a principio nos parecem estranhas, até mesmo selvagens. - Não entendemos aquilo que não conhecemos - Mas aos poucos a magistral dança a nossa frente nos faz entender o grito e a revolta daqueles homens vestidos de mata - de África! - em seu protesto por um lugar num mundo aparentemente civilizado. Onde antes víamos olhares selvagens, agora podemos ver uma alma nobre de alguém feito pela natureza e ameaçado pela civilização, pela exploração, por aquilo que os capitalistas chamam de “progresso”. Nos comovemos com seus gritos, com suas danças fortes e vorazes, seus corações apaixonados suplicando por um pouco de liberdade nesse mundo de dor e exploração, tentando sobreviver em meio à selva que virou o mundo de hoje. Os gritos se aquietam, os dançarinos saem tão furtivamente quanto entraram, como num sonho intenso e breve, deixando o publico perplexo, tentando entender o que aconteceu, se perguntando quem eram aquelas pessoas, de onde vieram.

Em um canto do palco uma fada aparece como que de repente. Seu vestido azul claro balança de forma alucinógena em meio ao raio de luz que a circunda. De repente todas as luzes se acendem e outras fadas acompanham a primeira, em seu passeio pelo palco; passeio como que passageiro, leve e despreocupado, em meio a um jardim de corações humanos. Elas passeiam mais um pouco, o publico voa junto com elas, e então elas saem por uma porta lateral, tão de repente quanto entraram. Tudo se cala, as luzes se apagam, e o silencio deixado pelas fadas só é quebrado pelas palmas fervorosas da platéia.

E no meio do silencio absoluto ouvem-se hélices de helicóptero e tiro ouvidos ao longe. As luzes se acendem de repente e soldados enfileirados entram apressadamente, prontos para a batalha, jurando defender seu pais e sua família mas prontos para morrerem por seu general. Suas expressões são duras e rígidas, numa disciplina militar perfeita; numa determinação em vencer a guerra a qualquer preço. Mas junto com toda essa rigidez vemos também em suas expressões o desespero e os apelos daqueles que vivem na guerra; que imploram por um pouco de paz; que acordam todos os dias na esperança de um breve tempo de paz com a família e os entes queridos. Vemos seu apelo em cada movimento; cada grito de forçada coragem; cada expressão vazia e apavorada. Eles nos olham rígidos mas no fundo nos pedem ajuda. Saem em uma organização perfeita, da mesma forma como entraram, deixando o publico pensativo, tentando entender a alma daqueles que matam e morrem todos os dias. Mais uma vez as luzes se apagam.

Quanto o palco se ilumina novamente fantasmas entram vestidos em camisolas brancas, gritando de agonia e de dor. Seus movimentos parecem desajeitados e sem sentido; seus rostos demonstram dor e sofrimento provindos de um sentimento contido por muito tempo em seus corações. Uma loucura inimaginável se vê em seus olhos, loucura essa que lhes guia em um caminho tortuoso e perigoso, rumo à tristeza e a solidão, de onde não há volta nem escapatória. Estão mortos há muito tempo, e seus corpos servem de fantoches a um maestro fantasma, vestido de fraque, que entra para guiá-los naquela dança de desespero e angustia, que é o destino daqueles que enlouquecem e são esquecidos pela sociedade. O maestro balança os braços violentamente enquanto os fantasmas de loucura seguem seus movimentos com o corpo e com a alma. Estão perdidos! Para sempre estarão enquanto estiverem sozinhos e esquecidos, entregues a aquela musica de medo e desespero. Os gritos vão morrendo aos poucos em meio ao silencio, mas nem por isso são menos assustadores. Quando a escuridão se apodera novamente do palco, os gritos já não são mais ouvidos, mas continuam sussurrando nos corações da platéia, cuja alma abalada sente piedade e comoção para com a loucura dos fantasmas. Não há palmas dessa vez, só silencio!

Mas em meio a toda a tristeza um som típico de palco começa a nascer, impregnando-se na alma dos espectadores e substituindo aquele ar pensativo de loucura por uma euforia alegre e tipicamente Hollywodiana. É Moulin Rouge que começa agora, e os elegantes homens de fraque a cartola entram acompanhados pelas belas dançarinas com pluma nos chapéus. O típico ar de Broadway toma conta do palco e dos corações humanos assistentes. Aquela emoção, beleza e luxuria passa a cativar e despertar os sonhos de todos ali presentes. Desde o can-can até as poses elegantes dos dançarinos, tudo parece coisa de cinema; um sonho que todos gostaríamos de ter vivido algum dia, uma vida que todos desejaríamos; uma dança que nunca gostaríamos que acabasse. Todos, dançarinos e bailarinas, distribuem piruetas e poses estilosas para todos os lados. A platéia acompanha a bela mulher no centro do palco, com vestido vermelho e lábios ardentes a chamar cada um para dentro de si, numa tentação irresistível e irrefreável. Todos dançam ao redor dela, e todos parecem fazer de tudo para exaltá-la. Com um aceno de mão ela chama todos a desfilar por entre o palco, num ultimo adeus ao respeitável publico. As plumas das dançarinas acenam graciosamente; os elegantes cavalheiros levam a mão à cabeça e retiram a cartola num gesto de cortesia e adeus. E assim, seguindo fiel e graciosamente a dama vermelha, todos saem do palco distribuindo acenos e sorrisos, como num sonho bom que esta prestes a terminar.

A platéia parece ser levada junto com eles; em seus corações todos imploram para serem levados para aquele lugar em que a dança nunca acaba, a cortina nunca se fecha, e a musica é sempre alta e contagiante. Mas aos poucos todos percebem a musica se abaixando, as cortinas vagarosamente se fechando, e o palco vazio como eles temiam que uma hora ficasse. Mas em seus corações, os bailarinos ainda dançam elegantemente, os fantasmas ainda gritam por socorro, os soldados ainda entoam seu hino por liberdade, às fadas ainda voam despreocupadas e os homens vestidos de mata ainda passeiam furtivamente pelos cantos obscuros do pensamento, e no meio de tudo isso uma bailarina dança sozinha num palco escuro e sem platéia, movida unicamente pela lembrança do espetáculo que temporalmente se acabara. Nos corações daqueles que ali presenciaram, a dança nunca pararia, a musica sempre tocaria, pois aquilo já estava irremediavelmente impregnado neles. Não importa que as cortinas tivessem que fechar, ou que as luzes tivessem que se apagar; o show tem que continuar...

baseado no espetaculo "Hipérbole", da Academia Eliane Indiani, realizado nos dias 11 e 12 de dezembro no Teatro Metropóle (Taubaté-SP)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sobre a perfeição

Perfeição! Quantos não a buscam?! Ao longo de toda a nossa vida, buscamos a perfeição em tudo: na nossa forma de se comportar, na nossa situação financeira (a famosa “estabilidade”); e condenamos aqueles que não seguem aquilo que nós julgamos o “modelo perfeito de ser humano”. Mas será que esse modelo realmente existe?

Todos os homens necessitam se tornar cada vez melhores, isso é um fator psicológico, presente em nós desde os primórdios da evolução humana, quando ainda não éramos racionais e, assim como qualquer outro animal, o mais forte ficava com a melhor porção de comida, o melhor abrigo e etc. Buscamos ser os melhores, os mais fortes, e adoramos nos gabar por isso (mesmo que apenas dentro de nossa mente). É importante ressaltar que tudo isso é um processo inconsciente, e portanto, ninguém o faz de maneira a estar ciente de que se acha melhor que os outros.

Mas o que acontece quando o ser humano descobre que ele não consegue ser perfeito? Fácil! Ele passa a se gabar por coisas tolas; tentar rebaixar o trabalho do outro para dizer que o seu é mais importante e mais sofrido. Nada disso é feito de maneira maquiavélica, o que quer dizer que quando fazemos isso, acreditamos na nossa própria mentira.

A psicologia explica esse processo como uma defesa da mente contra a depressão (quem não prefere acreditar que é o melhor e mais nobre dos homens, ao invés de apenas mais um dentre muitos?), e não importa o quanto tentemos ser perfeitos nesse ponto buscando a modéstia (olha a mania de perfeição de novo), sempre haverá momentos em que não seremos capazes de reconhecer que não somos os donos da verdade.

É preciso portanto que sempre estejamos atentos a nosso próprio comportamento, a ponto de fazermos um julgamento mais justo de nos mesmos. Ouvir a opinião do outro sempre é uma boa forma de se fazer isso, já que muitas vezes é muito difícil reconhecermos o erro em nós mesmos. Aceitar esse erro também é difícil, mas sempre vale a pena tentar. Afinal, é muito melhor encarar os próprios problemas de frente (não só aqueles que são externos a você, mas também aqueles que estão dentro de você) ao invés negá-los, e assim permitir que eles possam fazer mal a outras pessoas e a si próprio.

sábado, 21 de novembro de 2009

Ironia


Ele atravessou a rua rapidamente, não tinha tempo para asneiras. Não dava atenção para o mendigo que lhe implorava a comida. Mal tinha tempo para ser gente!

Andava pela calçada sem prestar atenção nas pessoas que por ele passavam; sem perceber seus olhares tristes e melancólicos. Não tinha tempo! Estava atrasado, e tempo e dinheiro, não podia perdê-lo

O trabalho fora fatigante. Brigara com a faxineira por não ter limpado o escritório direito. Brigara com a secretaria por que ela chegara 20 minutos atrasada, pois seu filho estava doente e ela passara a madrugada inteira no hospital. Mas ele não queria saber dessas besteiras. Não tinha tempo! Estava cheio de trabalho. Tempo é dinheiro, não podia perdê-lo.

O condomínio aumentou a taxa de novo, era a terceira vez esse ano. O sindico precisava de mais salário. Ele ficou furioso: como ele poderia ganhar o dinheiro dos outros se os outros também queriam ganhar o dinheiro dele? Brigou com o porteiro, acusando de fofocar no prédio. Não se importava que fosse injustiça. Não tinha tempo! Estava cansado mas não podia parar. Tempo é dinheiro, não podia perdê-lo.

A esposa estava furiosa, pois ele não fora buscar o filho na escola. Brigaram porque não sabiam de quem era a vez. Brigaram por terem que sair de casa para buscar o filho quando acabaram de chegar. Não se importava que o menino tivesse esperado 2 horas. Não tinha tempo! O filho lhes era um subordinado, ele que entendesse a situação de bico calado. Não podia perder tempo com ele. Tempo é dinheiro, não podia perdê-lo.

O menino tinha tirado nota baixa, pois tinha dificuldade de entender o professor. Ele brigou com o filho. Onde já se viu? Investira tanto dinheiro na educação dele, uma fortuna, muito mais valioso que os afagos que ele dizia sentir falta, e é assim que ele lhe agradece? O menino apanhou como nunca apanhara naquele dia, a cinta rasgava suas costas. Mas o pai não se importava com os gritos do menino. Ele lhe fizera perder dinheiro. Não podia perdê-lo.

Foi dormir furioso, pensando nos problemas que tinha no trabalho. Queria contá-los a família, mas... Não tinha tempo!

No dia seguinte ele acordou e saiu sem falar com ninguém. Não tinha tempo! E pegou um transito que lhe atrasou 2 horas a chegada no trabalho. Brigou com a secretaria por que ela provavelmente deveria ter chegado atrasada de novo, apesar de ele chegar depois dela.

Um colega o esperava: “meu amigo você é um exemplo de pessoa. Tem uma boa família, um bom emprego, é trabalhador. O que mais poderia querer?”

- “pois é, eu valorizo muito a minha vida e minha família. Não sou que nem essas pessoas que só ligam para o dinheiro. Não como esses ladrõezinhos do subúrbio que ficam de olho na nossa carteira, sempre querendo passar a perna. Agora me de licença que tenho que trabalhar. Tempo é dinheiro!”

Chegou o fim do expediente e ele saiu orgulhoso de ter fechado mais um grande negocio. Queria voltar logo para casa, contar a família o quanto seu trabalho e seu tempo bem aproveitado valera a pena. Ele andava pela rua tão confiante, ignorando todos ao seu redor, que não percebia que todos também o ignoravam. Atravessou a rua; não viu o carro...Bateu!

As pessoas passavam pela rua e o viam estirado no chão. Mas não paravam para olhar, nem para ajudar. Não tinham tempo! O que era mais um homem no meio da multidão? Tempo é dinheiro, não podiam perdê-lo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Viva a Palavra!


Senhoras e Senhores, caros amigos!

Usar a palavra para divulgar uma idéia, um pensamento, um sentimento, é algo feito há tempos ao longo de toda a história da humanidade. A palavra é viva! Mais do que simples rabiscos no papel, ela tem o poder de traduzir as idéias para que outras pessoas possam conhecê-las. Seja a palavra escrita ou oral, as pessoas sempre a utilizaram para transmitir seu conhecimento para outras pessoas. É exatamente isso o que pretendo com esse blog, poder transmitir a vocês um pouco de minhas idéias e pensamentos, daquilo que aprendi com minhas experiências, afim de que esse conhecimento possa ajudá-los como me ajudou.

Mas divulgar as idéias não é o mais importante. É preciso, principalmente, usar a palavra como arma, seja de defesa, seja de ataque. A palavra deve influenciar, mudar a cabeça das pessoas, mostrar a elas a verdade. Deve ser uma ferramenta de construção de uma sociedade melhor. A fim de podermos (ao menos tentaremos) construir o que eu chamo de “Sociedade Alternativa”, um tipo de convivência entre as pessoas com mais liberdade, menos frescuras, e principalmente: mais justiça.

Agora, mudando um pouco de assunto. Confesso que o titulo do blog não é exatamente “original”. Eu o peguei de uma musica do Raul Seixas por achar que ele servia exatamente ao meu propósito. Porem, há uma outra definição para ele, pois é o nome de uma filosofia que começou com Aleister Crowley e foi muito defendida por Raul Seixas (tanto que ele fez a musica a qual eu mencionei), que não é a que eu uso aqui. Apesar de concordar com certos aspectos dessa filosofia, eu pretendo criar minha própria definição de Sociedade Alternativa. Bom! Começa aqui minha jornada de escritor, espero que gostem dos textos.